0 centenário de Noel Rosa - Joaquim Correia de Carvalho Jr.
Publicado no Jornal do Commercio - 13.04.2010
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Uma seguradora do ramo de saúde distribuiu, no Natal passado, como brinde, um livro intitulado O morro e o asfalto no Rio de Noel Rosa, ilustrado com belas fotografias do Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930, textos de João Máximo, contendo uma biografia do chamado poeta de Vila Isabel e um CD com 14 músicas do inesquecível sambista, a seguir relacionadas: Com que roupa?, Quando o samba acabou, Quem dá mais?, Mulato bamba, Cordiais saudações, Feitiço da vila, Feitio da oração, Conversa de botequim, Não tem tradução, Arranjei um fraseado, O orvalho vem caindo, Onde está a honestidade, João Ninguém e Último desejo.
Agora, a Folha de S.Paulo acaba de lançar uma coleção intitulada Raízes da música popular brasileira, cujo primeiro CD homenageia o autor do sempre lembrado Feitio da oração, um dos mais belos sambas brasileiros, de todos os tempos. Essa nova coleção contém, igualmente, 14 músicas selecionadas pelo mesmo João Máximo, algumas já constantes daquela primeira coleção.
Nessa nova divulgação, existem algumas frases sobre Noel Rosa, uma das quais, de Rubem Braga, bem exprime a excelência das letras de Noel Rosa. Ei-la: "Vendo essas letras, eu me pergunto se Noel Rosa não foi, tanto quanto sambista, um cronista e um poeta."
Por certo, ele foi ambas as coisas: cronista ao narrar, até em minúcias, o cotidiano do Rio do seu tempo como em Conversa de botequim e O "x" do problema, poeta, pela beleza que se contém nas letras de sambas, como Feitio de oração e Feitiço da vila, por exemplo. Noel Rosa, cujo centenário de nascimento se comemora este ano (ele nasceu em 11 de dezembro de 1910), faleceu muito jovem, com 26, apenas, mas deixou um legado de mais de 300 músicas. Entre os sambas do CD, um, em especial, me despertou atenção pela sua atualidade. Refiro-me a Onde está a honestidade, cujo refrão diz o seguinte: "E o povo já pergunta com maldade: "Onde está a honestidade?"
Na letra do samba, Noel menciona os ganhos materiais da pessoa a quem a música é destinada (um palacete, joias, criados, automóvel, o dinheiro nascendo de repente e tantos outros indícios de riqueza) e, muito embora, aparentemente a crítica seja endereçada a uma dama, segundo o entendimento do seu historiador, o antes referido João Máximo, ela, na verdade, tem outros destinatários, que seriam os corruptos em geral. E acrescenta Máximo: "A mensagem caberia perfeitamente no Brasil de sempre e não apenas no daqueles dias."
De qualquer modo, é sempre oportuna a indagação a todos quantos não tenham como comprovar a origem de suas fortunas, em um país de tantos miseráveis.
É uma delícia estudar, respirar a atmosfera de Noel. Cantar Noel Rosa nos faz olhar direto nos olhos do homem brasileiro.
ResponderExcluirMaravilhoso aprendizado.